IMPLICAÇÕES DO TIPO DE PRÁTICA
A decisão de colocar um filho a praticar desporto não é fácil e pode ser motivada por muitos fatores, tais como:
– conselho clínico, quer seja por motivos de saúde física ou mental (para melhorar o relacionamento interpessoal, por exemplo);
– desafio de um amigo ou familiar que já pratica;
– iniciativa da própria criança, porque experimentou na escola ou viu na TV;
– ou porque o pai, ou a mãe, jogaram determinada modalidade e acham que o filho também deve iniciar-se na mesma.
Independente dos motivos e do grau de motivação inicial, o passo seguinte é o de conhecer o tipo de oferta existente nos clubes e associações perto da morada de residência. E é aqui que começam os primeiros problemas, pois se eu quiser que o meu filho fale inglês não faz sentido colocá-lo num instituto francês, certo? Na escolha da prática desportiva devia haver a mesma preocupação, porque mesmo dentro de cada modalidade há filosofias diversas. Ainda que não seja definitivo, porque nos dias de hoje já é mais simples uma criança que pratique desporto federado poder trocar de clube, essa escolha é importante e terá seguramente implicações no futuro.
Num cenário ideal, e sob o nosso ponto de vista, entenda-se, um clube organizado deveria oferecer quatro tipos de prática:
Este tema surgiu-nos pelas notícias recentes, amplificadas pela comunicação social, de alguns atletas e famílias apresentarem queixas contra treinadores e os clubes. Isto acontece recorrentemente nas modalidades individuais. Queixam-se de demasiadas horas de prática, demasiada exigência, falam mesmo de bullying, de controlo exagerado sobre a vida social dos atletas e da sua ingestão calórica, no fundo, de traumas para a vida com implicações no âmbito da doença mental. Simon Biles, ginasta norte americana e a mais condecorada na história do seu país em campeonatos do mundo, deu o mote ao denunciar, no ano passado, abusos físicos e psicológicos sofridos ao longo da sua carreira.
É enorme a exigência a que obriga um programa de alto rendimento desportivo, nomeadamente em algumas modalidades muito técnicas. Os jovens e as famílias têm de perceber que vão abdicar de muita coisa. Um pouco como um pianista em formação ou um miúdo a gravar uma novela. São opções consentidas que as famílias tomam e das quais ficam reféns. Não obstante, no processo de formação desportiva, mesmo no alto rendimento, claro que não vale tudo e nunca serão admissíveis agressões físicas ou psicológicas.
A solução que antecipa ou previne problemas deste tipo está na proximidade e comunicação clara entre os intervenientes do triângulo “atleta – clube/treinador – família”.