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A “Dhika” do Rui – Episódio 15

Janeiro 30, 2023

IMPLICAÇÕES DO TIPO DE PRÁTICA

 

| Crónica Desportiva por Rui Alves

 

A decisão de colocar um filho a praticar desporto não é fácil e pode ser motivada por muitos fatores, tais como:

 

– conselho clínico, quer seja por motivos de saúde física ou mental (para melhorar o relacionamento interpessoal, por exemplo);

– desafio de um amigo ou familiar que já pratica;

– iniciativa da própria criança, porque experimentou na escola ou viu na TV;

– ou porque o pai, ou a mãe, jogaram determinada modalidade e acham que o filho também deve iniciar-se na mesma.

 

 

Independente dos motivos e do grau de motivação inicial, o passo seguinte é o de conhecer o tipo de oferta existente nos clubes e associações perto da morada de residência. E é aqui que começam os primeiros problemas, pois se eu quiser que o meu filho fale inglês não faz sentido colocá-lo num instituto francês, certo? Na escolha da prática desportiva devia haver a mesma preocupação, porque mesmo dentro de cada modalidade há filosofias diversas. Ainda que não seja definitivo, porque nos dias de hoje já é mais simples uma criança que pratique desporto federado poder trocar de clube, essa escolha é importante e terá seguramente implicações no futuro.

 

Num cenário ideal, e sob o nosso ponto de vista, entenda-se, um clube organizado deveria oferecer quatro tipos de prática:

 

  1. Experimentação: proporcionar a uma criança a prática de diferentes modalidades no mesmo clube. Por exemplo, um atleta às segundas tinha aula de natação, às quartas de basquetebol e às sextas de xadrez. Porque não? É um tipo de prática que desenvolve diferentes habilidades e capacidades, ótima para crianças que ainda não sabem bem que tipo de desporto gostavam de fazer no futuro e tem ainda como vantagem uma enorme associação à saúde e hábitos saudáveis.
  2. Recreação: neste caso a criança já opta pela prática de uma modalidade apenas, mas tudo sem compromisso. A família não quer perder os fins de semana com jogos, nem perder as férias na neve. A criança vai quase sempre motivada pela companhia de outras crianças da equipa. Esta gestão permite-lhe também não abdicar de ir à aula de música ou de dança. A competição também é facultativa e sem qualquer tipo de regularidade.
  3. Competição: neste caso o clube deve traçar um plano de desenvolvimento individual para a criança/jovem e comprometer os pais nesse processo. A criança já não joga na equipa “B” ou “C”, quando lhe apetecia ou tinha disponibilidade para isso, passa então a fazer parte da equipa “A”, que tem objetivos competitivos, que ainda assim não se sobrepõem ao desenvolvimento integral que o clube proporciona ao atleta. O natural aumento da exigência obriga a cumprir regulamentos, horários, convocatórias, presenças em reuniões, etc. Também é normal que a atividade deixe de ser tão saudável como era, pois com o treino e a repetição é provável que apareçam naturalmente mais lesões.
  4. Rendimento: esta modalidade de prática não é propriamente uma oferta, pois surge como convite e consequência da prática na competição. Quando o clube reconhece potencial e talento excecional no/a jovem deve elaborar um projeto de desenvolvimento individual de médio e longo prazo. Além da aceitação do/a jovem e da família, o clube deve avaliar e monitorizar as condições físicas e clínicas para perceber se o/a jovem aguenta o aumento do volume e intensidade da carga. Isto porque passa a treinar em dois escalões etários, com jovens mais velhos, passa a representar as seleções regionais ou nacionais, e começa a preparar-se para vir integrar, a prazo, os escalões séniores do clube.

Este tema surgiu-nos pelas notícias recentes, amplificadas pela comunicação social, de alguns atletas e famílias apresentarem queixas contra treinadores e os clubes. Isto acontece recorrentemente nas modalidades individuais. Queixam-se de demasiadas horas de prática, demasiada exigência, falam mesmo de bullying, de controlo exagerado sobre a vida social dos atletas e da sua ingestão calórica, no fundo, de traumas para a vida com implicações no âmbito da doença mental. Simon Biles, ginasta norte americana e a mais condecorada na história do seu país em campeonatos do mundo, deu o mote ao denunciar, no ano passado, abusos físicos e psicológicos sofridos ao longo da sua carreira.

 

É enorme a exigência a que obriga um programa de alto rendimento desportivo, nomeadamente em algumas modalidades muito técnicas. Os jovens e as famílias têm de perceber que vão abdicar de muita coisa. Um pouco como um pianista em formação ou um miúdo a gravar uma novela. São opções consentidas que as famílias tomam e das quais ficam reféns. Não obstante, no processo de formação desportiva, mesmo no alto rendimento, claro que não vale tudo e nunca serão admissíveis agressões físicas ou psicológicas.

 

A solução que antecipa ou previne problemas deste tipo está na proximidade e comunicação clara entre os intervenientes do triângulo “atleta – clube/treinador – família”.

 

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