Nos escalões de formação, nas associações distritais com mais equipas, depois dos apuramentos para a ordenação de grupos competitivos começa a “luta” para chegar às fases finais distritais, cada vez mais entendido como o ponto alto da época desportiva. Mas a crónica não é sobre a alegria de ganhar, é antes sobre a tristeza e a frustração de perder. Cada jogador vive e sente a derrota de forma diferente. Diz-se que a nossa satisfação é medida pela diferença do resultado obtido face às expectativas criadas. É aí que deve entrar o treinador ou educador, ajudando cada jogador a definir muito bem os objetivos. Devem ser específicos, mensuráveis, desafiantes, mas alcançáveis, relevantes e circunscritos no tempo. No basquetebol, enquanto jogo desportivo coletivo, acresce ainda a complexidade de conjugar objetivos individuais e coletivos. No fundo, o treinador deve influenciar as expectativas dos jovens que tem sob sua orientação no sentido de os manter motivados e focados.
No processo formativo, o ideal era que cada jovem tivesse a paciência e a resiliência até atingir resultados a médio-longo prazo. É melhor a Rita ir à fase final de sub-14 no seu distrito ou representar uma seleção nacional no futuro? Ainda que ela tenha pressa em sentir o sucesso, os adultos que a rodeiam deviam fazê-la acreditar mais no processo e menos no produto. O problema é que muitas vezes são os pais, os dirigentes e até os próprios treinadores que sobrevalorizam o resultado de um jogo hoje, de tal forma, que dão o pior exemplo que um adulto pode dar a quem está a formar-se. A Rita perdeu e chora desalmadamente. “Não chores!”, “Levanta a cabeça!”, “Não deixes as adversárias verem essa fraqueza!”. São conselhos quase automáticos. No entanto, o mais importante de tudo é perceber porque é que chora a Rita. Esperava vencer o jogo? Sentiu que cometeu erros que não estava à espera? Sentiu-se incapaz ou incompetente? Sente-se assim por comparação com as suas colegas? Ou com as suas adversárias?
O jogo acabou. Quem me dera que começasse outra vez e agora é que ia ser… mas o tempo não volta atrás. Se as minhas expectativas para o desempenho, ou o resultado, eram baixas, talvez seja mais fácil de aceitar os factos. Por outro lado, se esperava uma alta performance e as coisas não correram conforme esperava, então a frustração tolda-nos o raciocínio. Mais uma vez, quando falamos em jovens em formação, compete aos adultos dar conforto e ajudar a encontrar explicações. O mais fácil são arranjar desculpas ou remeter responsabilidades para terceiros: “deixa lá Ritinha, jogaste bem, mas estes árbitros foram péssimos”. O mais trabalhoso é analisar o resultado e perceber o que é que a Ritinha tem de trabalhar mais no treino, e as restantes colegas, para ultrapassar determinada lacuna que se evidenciou na competição. Mais uma vez, priorizar o processo face ao resultado. O processo depende das condições criadas pelos dirigentes, das orientações dadas pelos técnicos e do compromisso dos jogadores. O resultado depende de muitos outros fatores, muitos deles incontroláveis.
É que eu nunca vi um jogador a chorar num fim de um treino em que não se aplicou o suficiente, nem quando faltou ao treino para ir assistir a um jogo de futebol. Porque, de facto, assim como um jogo é irrepetível, também um treino é irrepetível. Ainda que tenham todas as justificações do mundo para faltar, esse treino nunca mais volta a acontecer. E o treino é a principal resposta para não precisarmos de chorar derrotas.