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EPISÓDIO 3

Como em tudo na vida, o equilíbrio é a chave
Setembro 28, 2021

Como em tudo na vida, o equilíbrio é a chave

“Os atletas vão de férias”. É o título de uma crónica que o Dr. Basil Ribeiro escreveu na revista Notícias Magazine já lá vão quase 30 anos, cujo recorte guardo na mesma pasta que contém uma entrevista ao Drazen Petrovic ou o bilhete dos Harlem Globetrotters. O arquivamento não foi só pela qualidade da crónica… na verdade, estando eu na altura a dar os meus primeiros passos como treinador, guardei essa recordação do primeiro documento que decidi fotocopiar e entregar aos meus jogadores. Ironia do destino, muitos anos mais tarde privei com o Dr. Basil, pois ele acabou por ser o médico responsável do Centro de Treino do Porto/Paredes e depois da Federação de Basquetebol.

Voltando à crónica, ela remetia para um conjunto de conselhos práticos para os jogadores que terminaram a sua época desportiva e esperavam pelo começo da seguinte. Já na altura, as opiniões dividiam-se entre aqueles que defendiam que as férias eram o momento ideal para o jogador treinar mais e melhorar individualmente, e os outros, aqueles que sugeriam um “desligar” da modalidade e aproveitar as férias para descansar com a ideia dos jogadores chegarem a setembro mais motivados do que nunca.

Esta altura do ano é aquela em que as “revistas cor de rosa” fazem capa com a “barriguinha” exacerbada de jogadores de futebol mediáticos, um verdadeiro beneplácito à nossa bolinha com creme pois, se até eles engordam, porque havemos nós de manter a linha? Já os adeptos não perdoam, catalogando imediatamente um jogador deste tipo como pouco profissional ou desleixado. Como em tudo na vida, o equilíbrio é a chave. Todos sabemos que um profissional do desporto é sujeito a uma rotina de trabalho muito intensa, que leva normalmente o seu corpo para além dos limites, que sofre as mais diversas pressões e escrutínios, que tem cada vez mais jogos por ano e muitas vezes trabalhos de seleção no verão, mas que é um ser humano que tem o direito a férias como outro trabalhador qualquer. Não é menos verdade que a longevidade de uma carreira desportiva depende de uma atitude regrada, mesmo no defeso, e que os exageros serão “pagos” na pré-época, nomeadamente com o aumento do risco de lesão, isto tudo para além das questões associadas à imagem, como é natural.

Quando pensamos nos outros atletas e jogadores que não são profissionais, a grande maioria, sabemos que o momento de paragem para uns pode ser a oportunidade aproveitada pelos outros. A matemática não é complicada. Quem treinar em agosto duas vezes por dia em seis dias por semana pode chegar às 54 sessões de treino, o que representa mais de metade de uma época desportiva para quem treina três vezes por semana no seu clube. Mais, tendo em conta o tempo de empenhamento motor (volume efetivo da prática) e a especificidade do trabalho individualizado, o produto do treino nesta fase pode ser ainda consideravelmente superior. É essa a equação que abre espaço aos campos de treino, campos de férias ou mesmo à prática informal nos campos de streetbasket que, felizmente, vão proliferando por aí. Também para este tipo de atletas, a receita tem de ter uma boa dose de equilíbrio. Ninguém deseja cair numa situação de síndrome de sobretreino, seja agora ou ao fim de 3 meses da época iniciar, pois sabemos que o “esgotamento” pode levar à perda de performance ou, pior ainda, levar mesmo ao abandono da prática.

Também os treinadores têm umas férias “especiais”. Ainda que parte do “trabalho de casa” possa estar feito, é sempre o momento de contratação de reforços e preparação de estratégias para a nova temporada. Para o alto rendimento trata-se de um momento absolutamente crucial da época desportiva. Como não há duas equipas iguais, o treinador quase nunca pode replicar o que fez na época anterior, ainda que deseje manter a mesma filosofia de jogo. Há sempre um reset que o obriga a estudar e selecionar os melhores conteúdos para os jogadores que vai ter à sua disposição.

E não podia faltar uma referência aos dirigentes, também eles alvos dos olhares recriminatórios das suas famílias, entre aqueles dois mergulhos na praia, pois aquele telefonema foi mesmo preciso atender para garantir o treinador adjunto dos sub18 que nos faltava ou acertar os termos do compromisso de uma jogadora para a nossa equipa sénior.

A atipicidade das duas últimas épocas, com paragens e arranques inesperados, pode levar-nos novamente à reflexão sobre a duração das competições, dos treinos e das férias. Nunca uma época se prolongou tanto no calendário como esta que acabou de terminar… será desta que os clubes, dirigentes, treinadores, jogadores e as famílias vão perceber que podemos treinar de setembro a julho, interrompendo a prática formal apenas em agosto? Ou vamos voltar aos 3-4 meses de “férias”?

Boas férias e, se for caso disso, bons treinos também!

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